Wednesday, April 26, 2006

Águeda Internacional - A última garganta


Fez em Dezembro 3 anos que tínhamos saído “derrotados” na tentativa de abrir a garganta Internacional do rio Águeda.
Na altura esperava-nos um rio em cheia, minado de buracos gigantescos, rolos e “funny waters”. Depois de fazer algumas (muitas) portagens, acabámos por sair no primeiro acesso que encontrámos, apenas 5 ou 6 km depois do início. Devíamos ter desconfiado logo, pois ao entrarmos na ribeira de Tourões já se sentia que o caudal estava demasiado alto. Mas quem não sabe...

Mas a bela garganta do Águeda estava atravessada no pensamento de todos e por isso tivemos que fazer um take 2.
O ambiente continuava cinzento, os grifos ainda rondavam em círculos sempre à espera, os penhascos com de mais de 200 m de altura eram os mesmos, os acessos continuavam muito difíceis e raros. Mas o nível de água, esse, era muito diferente. Normal, perfeito para uma primeira (que era uma segunda).

Dia 1

Quase o mesmo grupo – Benjamin, Rafael, Henrique, Joaquim, Vieira, Necas e eu – apenas faltava o Paulo que está no estaleiro com uma lesão e que foi substituído pelo Castro, apresentou-se para a missão.

Com rádios para tentarmos manter contacto com a equipa de terra que nos iria ajudar a encontrar as saídas do rio, lançámo-nos novamente pela Ribeira de Tourões abaixo até entrarmos no Águeda. Que diferença!! Desta vez os primeiros rápidos que nos tinham apresentados grandes dificuldades há 3 anos agora não passavam de Cl.IV, a corrente passava entre enormes blocos de pedra que da outra vez estavam submersos, uma diferença de pelo menos 2 metros de caudal num rio bastante largo…


Rápidos muito “cegos” entre blocos, compridos, técnicos e com muitos sifões. Muitas vezes o Benjamin a arriscar sem visibilidade, a seguir o instinto para encontrar uma linha mais segura entre os enormes rochedos. Mesmo assim muitas vezes fomos obrigados a parar e reconhecer a pé algumas passagens.


Que paisagem, que ambiente se vive dentro desta primeira garganta do Águeda. Infelizmente a câmara de vídeo ficou quase sempre dentro da caixa estanque, pois o caminho era longo e não fazíamos ideia do que iríamos encontrar pela frente nem sequer qual seria o próximo acesso para sair do rio…

Cá fora, o Paulo, Zebery, Hugo, Maria e Teresa andavam a bater caminhos num 4X4 para tentar encontrar os acessos e com binóculos para nos tentar ver do alto das falésias. Afinal esta tarefa era relativamente simples pois os Grifos andavam sempre a rondar por cima de nós e assim eles sabiam sempre em que parte da garganta nos encontrávamos…

Percorridos uns 13 km e umas trocas de palavras por rádio chegámos a uma zona onde era possível sair do rio por um caminho a pé que dá acesso a um estradão. Primeira parte da missão cumprida. Ainda deu tempo para uma vista de olhos à passagem Cl.VI (muito, muito perigosa) que daria início ao percurso do segundo dia. Depois, comida, umas cervejolas e… fiesta!!!

Dia 2

Sem o Vieira, sem câmara de vídeo, sem rádios e com pouca saúde lá nos apresentámos à formatura como podíamos. Portagem no Cl.VI com um stress do Castro a escorregar numa laje de granito e aterrar ele, o kayak e a pagaia lá dentro, felizmente já no canal de saída e já depois dos sifões criminosos. Assim de repente já sabíamos de histórias sobre algumas ovelhas, cabras e um cão que não tiveram a mesma sorte…

15 km era o que faltava remar até à praia do Vau, onde se encontrava o próximo acesso. Na carta a garganta abria uns 6 km a jusante e a pendente parecia abrandar. E estava um belo dia de sol o que ajuda logo na moral da malta.
E realmente esta segunda parte é mais simples mas nem por isso menos impressionante nem menos espectacular.

Bonitas passagens em Cl.IV, mais concentradas mas mais limpas, sempre com a presença constante de sifões XL.
Antes de uma curva à esquerda paramos para tentar ver o que se passa: o rio passa pelo meio de muita vegetação e desaparece numa série de pequenos rolos, mas parece haver uma zona mais calma logo de seguida. Entramos todos nos kayaks e vamos em fila indiana, fazemos a curva e entramos numa garganta encaixada no meio de duas paredes verticais de granito com uns 5 ou 6 m de largura que nos vai acompanhar quase por 1 km. Os efeitos da água na rocha esculpiram-na com formas que têm tanto de estranho como de belo. Arredondadas, em forma de cacto, marmitas, túneis…
Pensamos como seria 3 anos atrás, com o rio em cheia… 2m a mais de água na parte de cima aqui seriam pelo menos uns 4…

Limitamo-nos a sorrir uns para os outros…

Antes da parte flat final ainda fazemos algumas passagens muito interessantes, uma delas impressionante mas nem por isso muito difícil tecnicamente, Cl IV+. Depois foi remar até ao final para encontrarmos a malta do apoio de terra esticados a apanhar uns belos banhos de sol na relva da praia do Vau…

… Tudo está bem quando acaba bem…

Sequência de imagens de uma das últimas passagens da 1ª Garganta.